sábado, 13 de agosto de 2011

ENVELHECER


ENVELHECER
Vinte duas horas e trinta minutos, o telefone toca, após um final de semana onde o ideal era que eu tivesse descansado, me levanto irritado, pois não fazia mais de quarenta minutos que havia me deitado, do outro lado da linha uma pessoa que nunca havia me ligado a Sofia filha da tia Solange e do tio Samuel. Assustado e não reconhecendo a pessoa que estava do outro lado da linha, após muita explicação por parte da moça, enfim reconheço e me desculpo por não te-la reconhecido no primeiro momento.
Sofia uma prima distante, talvez pela idade e criação muito rígida logo e bem cedo se casou e então o que resta de um relacionamento distante é o respeito nos momentos em que por acaso nos encontramos na rua ou em algum velório, alias velório era o motivo de sua ligação.
Ela ligara para informar o falecimento do tio Samuel, morte natural aos 87 anos, pedindo que informasse toda a família, após meus pêsames nos despedimos.
Como o horário já era avançado, imaginei que meus pais estivessem dormindo e deixei para avisa-los no dia seguinte bem cedinho.
Retornei ao meu precioso sono, na segunda às seis horas da manhã acordei, fiz o café comprei os pães e após levar as crianças para escola passei na casa de meus pais e para minha surpresa os dois tinham passado a noite no velório, estas noticias não andam, voam.
Minha mãe me disse que tinha sido avisada pela tia Aurora por volta das duas da manhã e que solicitamente se dirigiu ao velório, pois a tia estava muito ansiosa para ir prestar suas últimas homenagens.
Encontrei meu pai sentado a mesa tomando o café da manhã e com uma disposição de quem teria passado a noite toda dormindo. Sentei-me ao seu lado, parti um pedaço de pão enchi a xícara de café e comecei a ouvir os comentários de meu pai a respeito do tio Samuel.
“Tão jovem, ontem mesmo passei por ele caminhando na avenida com uma disposição e um sorriso que lhe era peculiar, não da para acreditar que ele morreu tão novo”.
Após estes e outros comentários me despedi e voltei para casa pensando nos comentários que o meu pai um homem de 71 anos havia feito a respeito do tio Samuel “morreu tão jovem”.
Comecei a pensar em minha vida, eu um homem de 42 anos me sentindo tão velho e o tio Samuel “morreu tão jovem”, será que aprendemos o verdadeiro sentido da juventude quando estamos próximos do anoitecer da vida? Bom o comentário partiu de meu pai, talvez o tio Samuel não se sentisse tão jovem assim, mas o meu pai já está com mais de setenta, e se ele acha o tio tão jovem, provavelmente ele ainda se considera uma criança e eu ainda esteja engatinhando, sou apenas uma criancinha, alias os nossos pais nos consideram sempre “as crianças”.
Comecei a refletir a forma como tenho levado a minha vida, com comportamentos de angustia, estresse, ansiedade, raramente um sorriso no rosto e sempre pensando no dia do amanhã, realmente com estes sentimentos estou muito velho e meu pai provavelmente esteja vivendo nos seus setenta e um anos um momento de muita jovialidade. Talvez ele nem perceba, mas naturalmente a vida para ele lhe traga esta sensação de jovialidade, pois analisando melhor, meu pai é um homem tranqüilo, raras são às vezes em que o percebo alterado, sempre disposto e com muitos planos para o futuro, planos e não ansiedades futuras.
Voltei a pensar em minha vida e nas palavras de meu pai “morreu tão jovem”, fico pensando se o velório fosse o meu, para o meu pai eu estaria morrendo prematuramente, mas qual é o meu sentimento verdadeiro a respeito da minha vida? Aos meus olhos não estaria eu mais velho do que o tio Samuel? Não estaria muito preso aos esquemas da vida, a esta vida metódica, só de correria, só de resultados? Qual seria a impressão que eu deixaria aos meus filhos, comentariam dos planos futuros a realizar e dos planos atuais nunca realizados, daquela viagem que ficou para o próximo ano, da caminhada combinada, mas sempre para amanhã, pois nunca tinha disposição, pois havia trabalhado muito naquele dia?
Questionamentos, que evitamos a vida toda, pois eles provocam crises, mas que merecem ser revistos em nossa jornada no dia a dia.
Luiz Fernando Rezende





O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância.
Provérbio Chinês









LUIZ FERNANDO REZENDE

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